sábado, 28 de novembro de 2015

Em mau estado

     Certamente observamos que nos últimos anos houve um sensível despertar para os direitos dos animais. Abusos são cometidos, mas já não aceitamos isso como em outros tempos de maior crueza nas relações animais e humanos. Quase todos se sensibilizam com um animalzinho abandonado ou sofrendo maus tratos. É justo que seja assim, pois nenhum ser vivo deve passar fome, frio e sofrer as intempéries da natureza.
         Os animais ditos irracionais diferem do homem, pois não têm o livre arbítrio. Mas será que esse mesmo livre arbítrio em vez de ser um avanço, um sinal de superioridade pode condenar o homem a não ter os direitos básicos que acima defendi para os animais? É justo que um semelhante por pensar diferente, não ter um emprego, ser um dependente de algum vício, não ter tido as mesmas possibilidades que teve alguém que nasceu em berço de ouro, não ter se escolarizado, ou outros aspectos que o deixam na periferia da sociedade, não tenha aqueles direitos básicos a que me referi e que aqui repito: comida, água, teto e proteção?
          Sim, ouço críticas a programas sociais, como o bolsa-família, o auxílio-gás, o seguro desemprego, entre outros. Dizem que não é justo, que favorece a um "bando" de vagabundos e que o governo faz mal em dar apoio a essas pessoas. De quem vem essas críticas? De alguns que há bem pouco tempo levavam uma vida regrada e que agora, por terem conseguido alguma ascensão, se julgam melhores e adotam uma postura de ser superior. De outros, acostumados ao mando e não toleram que o miserável tenha o mínimo necessário para viver, sem terem que estar subjugados a eles e aos que comungam dessa tacanha mentalidade.
      Esse é um aspecto que revela quem está na vanguarda do humanismo, da solidariedade e que quer construir uma sociedade menos desigual daquele que insiste no status quo, no individualismo, em ter propriedades e enriquecer às custas da miséria dos seus semelhantes, que se diz íntegro e critica o governo, mas no seu dia a dia sonega imposto não emitindo nota fiscal, não registra seus funcionários e não paga o justo salário.
        Portanto, não adianta cristianismo, títulos acadêmicos, casa em Miame, saber cantar o Hino Nacional, bom gosto para arte... se não enxergamos o nosso semelhante que precisa de alimento, água, moradia, transporte, vestimenta e saúde, pois esse marginalizado é nosso companheiro de jornada, queiramos ou não, que vive, sofre e é mortal como nós também o somos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Divã

Aquele que tiver ouvidos, ouça!
Mas ouve com paciência,
sem interrupção.
Seja menos Faustão.
Pois as pessoas querem falar,
a solidão anda à solta.

Ainda que pareça louca,
meio sem coerência
e com muita confusão,
abra seu coração.
Deixe sua história contar,
ouça sem abrir a boca.


Uns falam muito com palavras poucas
Outros não têm essa ciência,
pra dizer logo sua intenção.
demonstre consideração,
muitos só querem desabafar,
por pra fora seu sufoco.

E pra terminar essa poesia solta,
com ares de grande eloquência,
digo que o outro é seu irmão,
perdido na multidão
precisando se apoiar
em alguém que apenas o ouça!

                                                                Adalto Paceli








sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Inconsciência Negra


     Causou estranheza uma associação comercial de determinada cidade da grande Ribeirão Preto ter entrado na justiça e conseguido liminar suspendendo o feriado de hoje. 
     Nunca ouvimos falar que tenham tentado cancelar o feriado de Corpus Christi, de Nossa Senhora Aparecida e outros feriados ditos santos, embora nossa constituição seja laica.
E o feriado de 9 de julho, da Revolução Constitucionalista? Saia perguntando que feriado é esse e esteja pronto para as mais disparatadas respostas. 
     Esse pequeno texto não tem como primeira intenção criticar feriados, mas porque cancelar justamente o feriado de 20 de novembro? Será que os mais de 3 séculos de escravidão, a discriminação racial hipócrita no Brasil, a diferença salarial entre negros e brancos que desempenham a mesma função, a violência contra o negro das periferias não merecem um dia de reflexão?
     Tenho uma suspeita, o negro brasileiro não tem a mesma capacidade de reação da Igreja,do Estado e das grandes potências comerciais e midiáticas. Vi uma frase atribuída ao ator Morgan Freeman que questiona os dias dedicados às minorias, mas ele é um afrodescendente rico e famoso, será que é tão simples assim? 
     Enfim, faz-se necessário refletir nesse 20 de novembro e entender que o negro é nosso companheiro de caminhada, dotado dos mesmos direitos e deveres constitucionais e que é nossa obrigação combater qualquer tipo de racismo, principalmente aqueles que vêm em forma de brincadeiras à primeira vista ingênuas, mas que escondem o preconceito. O negro sofreu e sofre na pele, não é somente ele que tem de gritar contra as injustiças das quais é vítima, além de passar pelo sofrimento ainda tem que lutar sozinho? Não, não está correto! Todos devemos combater esse câncer social chamado preconceito racial.


                                                                                                                                Adalto Paceli

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Penso, logo insisto

     Você é como eu? Quando lê, assiste ou curte algo muito interessante fica com muita vontade de compartilhar com alguém? Pois é, sou assim. Pelo título já deu pra perceber que o papo é filosofia...
Espere aí, não me deixe sozinho nesse texto, vamos conversar. 
Dessa vez quero dividir com você minhas últimas leituras, é que falaram muito de dois escritores, Clóvis de Barros Filho e Júlio Pompeu, disseram que fazem ótimas palestras ou pra ser mais chique "seminários" e deram entrevistas na tevê.
     Pois bem, li "A filosofia explica grandes questões da humanidade", e não é que pelo jeito que eles escrevem explica mesmo! Nós, certamente, já lemos sobre muitos filósofos, daqueles antigos gregos, Platão, Aristóteles e Sócrates; depois, uma série deles: Rosseau, Pestalozzi, Schopenhauer, Nietzche, dentre outros. Como não sou um estudioso e apenas curioso, muitas vezes não consigo entender muito bem o que esses caras estão querendo dizer, mas com esse livro algo diferente se deu.
     A obra é composta por oito capítulos, os quatro primeiros mais a introdução escritos pelo Clóvis e os quatro restantes pelo Júlio, percebeu a intimidade? Logo no início, o assunto é ética e moral, segundo o autor e no que concordo, às vezes uma se confunde com a outra, mas para elucidar, ele explica com um exemplo, a ética é nossa boa atitude diária e moral são as decisões pontuais que precisamos tomar, mais marcantes, por exemplo, um colega de trabalho está lesando a empresa e decido denunciá-lo, isso seria um ato moral. Conversando com meu amigo Fernando, ele acrescentou outra diferenciação, moral pode mudar e está ligada aos costumes; já a ética não muda, independente do lugar e da época, por exemplo, roubar, é e sempre foi um ato errado em todos os lugares.
     Para aprofundar um pouco mais sobre ética, li da coleção primeiros passos, o livro O que é ética, de Álvaro L. M. Valls e foi esclarecedor. 
     Sabe, essas questões sobre a vida que num momento ou noutro vêm à nossa mente? De onde vim? O que estou fazendo aqui? Para onde vou? O que é justiça? O que é virtude? A Filosofia nos auxilia a compreendê-las melhor, só que é necessário ir aos textos, esse lance de ficarmos colecionando pensamentos, lendo superficialmente na internet um punhado de informações, as tais janelas que vamos abrindo e quando damos por nós, nossa casa está cheia é de pernilongos, são válidos, é claro. Mas nada substitui a leitura do livro, mastigando as palavras, voltando à página anterior quando não entendemos, isso é ler com autonomia.
     Para encerrar vou lhe confessar que já tentei ser chique lendo Nietzsche, lia, lia e não entendia seus escritos, cheguei a ganhar alguns livros desse autor. Mas ao terminar a leitura de " A filosofia explica grandes questões da humanidade, o autor indicou o livro Genealogia da moral, se você adivinhar quem escreveu esse livro eu lhe dou um doce... é o próprio, Nietzche e ao dar uma olhadinha no tal livro, é dos que ganhei de presente... o autor diz assim: "Se esse livro resultar incompreensível para alguém, ou dissonante aos seus ouvidos, a culpa, quero crer, não será necessariamente minha..." e conclui " É certo que, a praticar desse modo a leitura como arte, faz-se preciso algo que precisamente em nossos dias está bem esquecido - e que exigirá tempo, até que minhas obras sejam 'legíveis' -, para o qual é imprescindível ser quase uma vaca, e não um 'homem moderno': o ruminar..."
     Bom, se o próprio Nietzche se considera difícil de ler, até que eu não estou tão mal assim. Começo hoje a lê-lo, sou corajoso!

Adalto Paceli

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sem resposta


Pergunta quem sou e respondo o que fiz.
Fosses o Pequeno Príncipe,
olhar-me-ias com espanto
por ti mesmo, lerias:
É um frustrado mineiro por não ter em Minas nascido!
Mostra que envelhece 
pois  usa mesóclise quando escreve.

Não me criticarias, no entanto,
Fosse o Pequeno Príncipe,
olharias pra mim com enternecimento
e sentirias um amor desinteressado,
por apenas ter me conhecido!
Reconhecerias na criança que guardas
que tua pergunta é difícil de  responder.

Quem sou? Soma de quem fui, do que sou?
Poderia acrescentar o que serei?
Melhor não, ficaria mais complicado ainda.
Olha, vamos combinar algo mais fácil?
Pede que te desenhe um carneiro,
pode ser?

Caso estejas voltando à Terra,
no Brasil, pergunta-me sobre
a crise, a alta do combustível.
Sei que nunca desistirias de uma pergunta,
caso fosses o principezinho...
Abre uma exceção,
esquece esse lance de identidade,
ao menos por consideração à minha idade.


Adalto Paceli