Meu pai tinha loja
Nos fundos um quintal
Lá morava D. Rosa
Que plantou um milharal
Mamãe ganhou milho
Do afilhado Roberval
Passou dia a fio
Fazendo pamonha e mingau
Papai à hora do almoço
Achou até normal
Comer feijão e arroz
A mulher trabalhando ao sol
Lá pelas três e meia
A lojinha num paradeiro total
Ficava só olhando a porta
Quase passando mal
Deram cinco e seis da tarde
Fechou o comércio afinal
Chegou em casa zangado
Num mau humor total
Mamãe veio sorridente
Ainda de avental
Oferecendo uma pamonha
De todas a maioral.
Papai era tinhoso,
Fingia ver o jornal.
Pediu pra sair da frente
Afastando pamonha e mingau
D. Maria saiu com raiva
Foi chorar no quintal
Voltou de lá com um plano
Pra se vingar do animal
No outro dia bem cedo
Enquanto via uma nota fiscal
D. Rosa chegou com um prato
Trazendo pamonha etc e tal.
Meu pai pegou o prato
Comeu sem sair do local
D. Rosa dando um risinho
Foi pros fundos do quintal
No almoço não tocou na comida
mamãe perguntou afinal
Tá doente, homem?
O velho falou num riso triunfal
Sabe a dona Rosa
Do finado Zé Claraval?
Pois é, resolveu fazer pamonha
E acabou com o milharal.
Chegou na loja bem cedinho
Levando pamonha e curau
Baixei as portas de aço
Comi feito um general
Mamãe deu gargalhada
Engasgando fez um sinal
Papai sentou junto dela
Sem entender a cena teatral
Então pro seu espanto
Num gesto sensacional
Ela em pé foi falando
Tava bom o curau?
E as pamonhas quentinhas?
Diga-me logo, que tal?
Pois saiba que comeu do milho
Do meu afilhado Roberval
Ele abaixou a cabeça
Nada tendo pra falar
Saiu bem de mansinho
E foi pra loja trabalhar
Adalto Paceli