domingo, 1 de junho de 2014

As pamonhas

Meu pai tinha loja
Nos fundos um quintal
Lá morava D. Rosa
Que plantou um milharal

Mamãe ganhou milho
Do afilhado Roberval
Passou  dia a fio
Fazendo pamonha e mingau

Papai à hora do almoço
Achou até normal
Comer  feijão e arroz
A mulher trabalhando ao sol

Lá pelas três e meia
A lojinha num paradeiro total
Ficava só olhando a porta
Quase passando mal

Deram cinco e seis da tarde
Fechou o comércio afinal
Chegou em casa zangado
Num mau humor total

Mamãe veio sorridente
Ainda de avental
Oferecendo uma pamonha
De todas a maioral.

Papai era tinhoso,
Fingia ver o jornal.
Pediu pra sair da frente
Afastando pamonha e mingau

D. Maria saiu com raiva
Foi chorar no quintal
Voltou de lá com um plano
Pra se vingar do animal

No outro dia bem cedo
Enquanto via uma nota fiscal
D. Rosa chegou com um prato
Trazendo pamonha etc e tal.

Meu pai pegou o prato
Comeu  sem sair do local
D. Rosa dando um risinho
 Foi pros fundos do quintal

No almoço  não tocou na comida
mamãe perguntou afinal
 Tá doente, homem?
O velho falou num riso triunfal

 Sabe a dona Rosa 
Do finado Zé Claraval?
Pois é, resolveu fazer pamonha
E acabou com o milharal.

 Chegou na loja bem cedinho
Levando pamonha e curau
Baixei as portas de aço
 Comi feito um general

Mamãe deu  gargalhada
 Engasgando fez um sinal
Papai sentou junto dela
Sem entender a cena teatral

Então pro seu espanto
 Num gesto sensacional
Ela em pé  foi falando
 Tava bom o curau?

E as pamonhas quentinhas?
Diga-me logo, que tal?
Pois saiba  que comeu do milho
  Do meu afilhado Roberval

Ele  abaixou a cabeça
Nada tendo pra falar
Saiu bem de mansinho
E foi pra loja trabalhar

Adalto Paceli