sábado, 27 de dezembro de 2014

     A mídia que hoje afaga é a mesma que amanhã espanca
     A notícia é um produto altamente rentável, assim como sua omissão ou seu mascaramento. Como crer que uma empresa televisiva, por exemplo, que se tornou um verdadeiro império, possa nos trazer a verdade nua e crua? Chegaria a tal poderio se assim agisse? Como satisfaria seus maiores patrocinadores sem defender os interesses desses? Um dos seus grandes sustentáculos é o governo, seja esse municipal, estadual ou federal. E assim essa empresa do ramo das comunicações chegou ao que é hoje, nasceu, mamou, comeu e se fortaleceu com a Ditadura Militar de 1964 perdura com fortes raízes até hoje e parece ter gás pra muito mais.
     Pensa que isso é novo? Veja o que relata Lima Barreto a respeito de um jornal, por meio de seu narrador no romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha: "O seu gabinete era alvo de uma peregrinação. Durante o dia e nas primeiras horas da noite, entrava toda a gente, militares, funcionários, professores, médicos, geômetras, filósofos. Uns vinham à cata de elogios, de gabos aos seus talentos e serviços. Grandes sábios e ativos parlamentares eu vi escrevendo os seus próprios elogios. O leader do governo enviava notas, já redigidas, denunciando os conchavos políticos, as combinações, os jogos de interesses que se discutiam no recesso das antecâmeras ministeriais. Foi sempre coisa que me surpreendeu ver que amigos, homens que se abraçavam efusivamente, com as maiores mostras de amizade, vinham ao jornal denunciar-se uns aos outros. Nisso é que se alicerçou o O Globo; foi nessa divisão infinitesimal de interesses, em uma forte diminuição de todos os laços morais." 
     Porém, quando alguém aventa a necessidade de regular a mídia, esse quarto poder se ergue como baluarte da defesa dos direitos dos cidadãos de terem direito a uma imprensa livre. É muito cinismo! O que quer, na verdade, é se perpetuar no poder e continuar a dar as cartas, multiplicando afiliadas por todo o país. Na Argentina o governo peitou o  maior órgão de impressa e o enquadrou, aqui, no entanto, esse tema é tão tabu quanto mexer na Lei de Anistia que perdoou os militares torturadores.
Enquanto isso, continuamos a ver novelas, latas velhas e outras cocitas mas.