segunda-feira, 31 de julho de 2017

Chorar e sorrir

     “E retirou-se precipitadamente, porque suas entranhas se tinham comovido por causa de seu irmão, e tinha vontade de chorar; entrou em seu quarto e deu livre curso às lágrima.” Gênesis, 43, 30.

     A leitura da Bíblia traz para o leitor múltiplas experiências e uma delas foi uma profunda emoção com a história de José do Egito, em breves palavras, esse personagem bíblico era muito querido pelo seu pai Jacó, o que provocou ciúmes em seus irmãos que o venderam como escravo para mercadores egípcios. Aqui entra o episódio dos sonhos do Faraó e desvendados por José,  esse soberano sonhou com sete vacas e sete espigas gordas; e com sete vacas e sete espigas magras, José previu sete anos de fartura e outros sete de fome no Egito. Tornou-se primeiro ministro, administrou bem os sete anos de fartura e os outros sete de penúria foi possível atravessá-los sem piores consequências, chegando mesmo a negociar víveres com os países vizinhos.
    Aconteceu que a família de Jacó recorreu ao Egito para adquirir comida e seus filhos foram enviados para tal e lá encontraram o Primeiro-Ministro José, mas não o reconheceram, ele, no entanto, soube quem eram assim que neles pôs os olhos e ficou extremamente comovido, em especial, ao ter notícias de seu irmão caçula Benjamin e de seu pai.
    Houve idas e vindas e numa dessas, José ofereceu aos irmãos um jantar e contam as Escrituras que ele foi tomado de tamanha comoção que se retirou da sala e seu choro foi ouvido pelos servos da casa.
     Demos um gigantesco passo e vamos ao Novo Testamento e vejamos mais uma cena comovente, Lázaro e suas irmãs Marta e Maria eram amigos de Jesus, aconteceu que Lázaro morreu e o Mestre não ficou sabendo. Um tempo depois, visitou os irmãos e ao saber do falecimento do amigo, Jesus chorou.
     Por que as lágrimas causam tanta polêmica? Por que ao vermos uma pessoa chorando temos a automática reação de consolá-la? No entanto, não temos a mesma reação diante do sorriso, do riso e da gargalhada. Por quê? Certamente todos já vivemos a experiência mental de tentar sofrear nossas lágrimas com receio da reação dos circunstantes. Os amigos ficam incomodados quando percebem que nossas lágrima afloram. Há também o velho ditado “homem não chora”.
     É hora de mudarmos esse paradigma, pois o riso e o choro são lados de uma mesma moeda, choremos e permitamos que nossos afetos possam chorar em nosso ombro, deixemos que vejam nosso olhos marejados e ouçam com a mesma naturalidade o nosso riso, lembrando do Pequeno Príncipe, cujo sorrir se transformou em estrelas brilhantes, que iluminavam a vida daquele velho piloto.


Adalto Paceli