sábado, 10 de março de 2012

Vende-se

     Mamãe me deixou há 8 meses e não a esqueço um momento sequer. É um lembrar tranquilo que aos poucos vai deixando de ser doloroso, ou seja, está virando saudade, no melhor sentido da palavra. No entanto, de quando em vez, surgem circunstâncias, lugares, sons, fisionomias que dão um chacoalhão  na gente.
     Sempre controlada, viveu uma vida de independência financeira, deixando para nós, seus filhos, uma casa simples e que agora será vendida. Pois bem, estando este imóvel desocupado procedi sua reforma e, ao final, lá estive.
     Fui sozinho e revi em cada cômodo seu rosto, tendo morado ali, quis colocar um revestimento ou um lustre do seu gosto. Então tudo gritou sua presença que aos poucos me ensurdeceu trazendo lágrimas. Não chorei por tristeza e sim porque queria chorar, lavar meu peito e assim poder vê-la nos seus melhores dias a me sorrir e, de repente, olhar para um dos revestimentos da cozinha e dizer " Este ficou meio torto!". Mas ela sabia que nada era perfeito, que a vida é um pouco torta também e, finita.
     Depois daquela agitação, tranquei a casa e olhei para uma plaquinha de "vende-se" e, ao entrar no carro senti a porta do passageiro se abrir e ela, para meu espanto, entrar sozinha e me sorrir, meu caminho de volta foi suave, pois sua presença era leve e gostosa de se carregar.


3 comentários:

  1. Adoramos o texto vende-se,seus dizeres mexeram com os nossos sentimentos mais profundos, lindo!
    Parabens para o autor deste texto,acreditamos que seja o professor ADALTO.
    Lilian e Eva 8ª EJA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lilian e Eva,
      Sim, fui eu que escrevi, obrigado pelo comentário.

      Excluir
  2. ADORAMOS O TEXTO VENDE-SE:POIS DE CERTO MODO NOS FEZ RECORDAR UM POUCO DE NOSSAS MÃES,PESSOAS QUE AMAMOS MUITO,E QUE A VIDA NOS SEPAROU DE UMA FORMA UO OUTRA.MAS ESTARÁ SEMPRE PRESENTE.
    EDIVALDO E ANA GABRIELA.7ª EJA

    ResponderExcluir