sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Can I help you?

     Fernando que era Álvaro
na sua ode triunfal descreveu
um mundo de máquinas
de velocidade sem igual.

Mundo de quase cem anos atrás
um Portugal, uma Europa
de carros, muito trânsito
e um barulho infernal.

Um continente recheado de corrupçâo
gente à margem de um sistema
protegendo os escolhidos
como se isso fosse normal.

Campos, o mesmo Álvaro em pessoa
é ácido, irônico e descrente.
A realiade em nada é diferente
neste Brasil que já foi de Portugal.

Vi na tevê um fragmento da nossa ode triunfal,
pessoas à beira da estrada, ao lado estendida uma placa
"preciso de ajuda!"
Pensei,  no meu confortável sofá: Que ideia original!

Adalto Paceli

domingo, 18 de dezembro de 2011

E-mail e torpedos

     Hoje, sem dúvida, temos melhores condições de vida. Casas bem construídas, uma série de eletrodomésticos, passeios, boa alimentação e um carro. Falo de nós, pobres. Os ricos sempre tiveram tudo isto, é certo que alguns por avareza, levam vida de miseráveis, mas esta é uma outra história. Há, no entanto, areia nesta engrenagem.
     Os trabalhadores, em geral, de vinte ou quinze anos atrás quando deixavam o tabalho ao final do dia, com raríssimas exceções, não eram incomodados em casa ou no barzinho no happy hour. Iam pra casa, tomavam seu banho tranquilo, pelo menos os mais asseados, jantavam, assistiam tevê com a família e iam dormir. Só lembravam do trabalho quando nele chegavam. Os finais de semana e feriados eram mais tranquilos ainda, nem em sonho imaginavam receber uma ligação do patrão ou um telegrama sobre problemas no trabalho.
     Aí chegou o celular, primeira camada de areia na engrenagem da tranquilidade, o pobre coitado começou a ser localizado nos locais menos prováveis, da igreja ao motel, quebrando toda sensação de descanso. O cara, numa boa, na mesa de um bar e, de repente, o celular toca, ele atende e, sem um boa-noite, "Venha pro escritório agora, precisamos conferir o estoque!".
     Com o telefone celular, num mesmo pacote de presente, vieram as mensagens, "onde você colocou a nota fiscal da dona Isabel?" "Qual a senha para acessar o cadastro dos clientes de Bauru?". O funcionário, agora chique porque tem um celular, trabalha sem perceber e, o pior, sem nada a mais receber.
     Então veio o pior, um tal de e-mail, o sofredor está em casa brincando com o filho de cavalinho, os pais ainda brincam assim? Imaginemos que sim, pode ser? Pois bem, no meio da risada gostosa do filhão um apito vindo do notebook. Fazer o quê, põe a criança no sofá, abre seu e-mail e naquela tarde de domingo lê "Sérgio, faça um relatório sobre o expediente de ontem aqui na loja e me envie em uma hora, o Dr. Eduardo precisa destas informações com urgência, pois considerou o faturamento fraco e estuda a possiblidade de despedir alguns funcionários!".
     Agora o fechamento com chave de ouro, o celular, a mensagem, o e-mail, por incrível que pareça, são sinônimos de status, o trabalhador sente-se importante utilizando-os, não tem, na maioria das vezes, consciência, que na verdade está trabalhando mais, não descansa, dá mais lucro para o patrão e não recebe nada a mais por isso.
     Enfim, até que acordemos estaremos em um novo ciclo de exploração de mão de obra, com cara moderna, mas com evidentes sinais de subserviência e de trabalho escravo. Quem poderá nos salvar? Poderá a nossa célere justiça regulamentar esta nova relação de trabalho? Como poderemos ser salvos, se o inferno das modernas tecnologias nos aprisiona em suas teias disfarçadas de tecnologia do futuro?

Adalto Paceli

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Colação de Grau

     Ontem na escola foi dia de festa, formatura das oitavas séries, cheguei e fiquei conversando com alguns colegas, observando o alvoroço. Risos nervosos, fila pra pegar a beca, arrumações de última hora, grupinhos aqui e ali no pátio, convidados indo para o local da cerimônia, a quadra.
     Lá, apesar do calor, mesa bem posta, bandeiras, convidados sentados aguardado e o costumeiro atraso. Hino, homenagens de praxe, entrega de lembranças e de certificados , encerramento.
     Gostaram do resumo? É claro que não! Isto todos vemos, é o ordinário. Há, porém, alguns refinamentos que talvez escapem para a maioria. Pois é, vamos conversar sobre isto?
     Vi olhos brilhantes e lacrimosos, mãos trêmulas e suadas. Ouvi vozes gaguejantes e entrecortadas. Senti nos abraços corações descompassados. Percebi passos trôpegos e vacilantes. Mas, eles não são os nossos jovenzinhos com pilha duracell? É que, embora jovens, sentem medo, saudade, cansaço, apenas disfarçam tudo isso com a fantasia da juventude.
     Foi assim que traduzi em meu íntimo aqueles momentos, sublimes, mágicos, irreversíveis, gravados no meu coração e fiquei monologando, lembrando dos outros alunos que já se foram. Lá mesmo encontrei alguns. Veio à minha mente a Adélia Prado "A coisa mais fina do mundo é o sentimento".
     Não senti tristeza, sou por natureza melancólico. Experimentei enlevo, suavidade, uma sensação gostosa de bem estar, de satisfação por ser professor e uma carícia suave que chegava pelos sorrisos e gestos daqueles que há bem pouco tempo eram tão crianças e agora iam pra vida, eram retirados, pela imposição da vida, do nosso convívio. Despedi-me de todos intimamente e agora tento esvaziar um pedaço do meu coração para receber aqueles outros que em breve virão.


Adalto Paceli    

domingo, 11 de dezembro de 2011

Dia Internacional Contra a Corrupção

     Dia nove de novembro, Dia Internacional Contra a Corrupção, achei interessante, pois é uma oportunidade para refletirmos sobre este terrível mal que devasta nossas instituições desde quando Cabral por aqui aportou. Há, porém, uma outra perversidade que possibilita a perpetuação dessa chaga. É o conchavo, a arte de se protegerem mutuamente, de colocar a sujeira embaixo do tapete. Só que a sujeira foi se acumulando e ultimamente não era possível nem mesmo limpar o "caminho do padre" como dizem os mineiros.
     Daí, a leva de ministros demitidos, a imensa quantidade de operações da Polícia Federal, as filmagens de políticos aceitando propina, dentre outros. O que podemos pensar sobre isto? A corrupção é maior hoje ou, não sendo mais possível escondê-la, ela aparece por todo canto da nação?
     Há pouco tempo, a eleição era no papel e tínhamos de esperar dias e dias para saber o "resultado", acompanhávamos pela telinha e em um canal com melhor "sintonia", a escola era para alguns privilegiados, dentre outras precariedades. Não significa que tudo melhorou, quero chegar na Internet, nas filmagens pelo celular, no cidadão que agora escolhe a notícia e o horário que quer vê-la.
     A corrupção não é menor nem maior, deixou apenas de ser transparente e hoje, para desespero de alguns, é escancarada, e sendo assim, já não dá mais para nossos governantes fingirem que não a veem. Isto é ótimo, sabemos que é pouco, mas já é um bom começo.
     Nas últimas eleições fiz uma coisa simples, anotei num papelzinho o nome e o cargo das pessoas para quem votei, guardei e de vez em quando dou uma olhadinha e digo " este está aprovado, aquele não, esta nem cheira nem fede". Simples, não? Assim, nas próximas eleições já sei me conduzir melhor, sabendo ao menos se meu candidado é honesto.
     Enfim, embora muitos não sejam punidos, pois infelizmente e por motivos que não vou tentar explicar, nossa justiça é muito lenta e nossa legislação é cheia de brechas que permitem recursos, veja o "Ficha Limpa", temos a nosso favor os meios de comunicação, ainda precários, porém mais variados e temos acima de tudo, a Internet e um pedacinho de papel onde podemos anotar o nome de nossos eleitos, ratificando ou excluindo seus nomes para uma nova eleição.

Adalto Paceli

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Fim de ano

     Limpo as gavetas, rasgo papéis.
monto uma pequenina árvore,
coloco alguns cartões
entre o menino Jesus.

Lembro como foi no ano passado
e repito a rotina da tradição.
Troco fotos do porta-retratos
guardo lembrancinhas num baú.

Os enfeites dos shoppings,
a criança sentada no colo do papai noel,
o pai tirando foto e a mãe fazendo gestos,
brinco de amigo secreto.

Acerto e enfeito os diários
numa sala deserta e alunos imaginários.
Esvazio e limpam o armário,
sou alérgico a poeira.

Será que meus filhos
vão passar um dia comigo
neste outro fim de ano?

Quem  sabe darão tréguas
e os deixarão decidir,
seus amigos perguntam por eles no condomínio.

No último dia do ano assisto um pouco de tevê,
faço um balanço do que foi possível viver
nestas cinco décadas de amanhecer e anoitecer.

Tudo igual, triste e solitário?
Prefiro tudo real, analisado e bem pesado,
falando demais mesmo estando por dentro calado.

Adalto Paceli

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mãe





Não é fácil compreender

O coração de uma pessoa

Que diz “não quero mais te ver”

E daqui a pouco tudo perdoa.


 
Trabalha sem esmorecer

Em casa, fora, nunca está à toa.

Arruma um tempo pra tevê,

Se um filho grita, larga a novela numa boa...


 
Sendo jovem, nem tudo consegue entender,

Qualquer coisa a magoa.

Por vezes fica perdida, tanta coisa a fazer!

Assustada sempre diz:  “Como o tempo voa!”


 
A de meia idade, no seu entardecer,

Sente que o tempo pelo ralo escoa.

Vê o filho tão rápido crescer,

Fazendo suas próprias escolhas.


 

 
Mamãe idosa, nem se viu envelhecer,

Seu filho já grisalho chama de meu garoto,

Repete histórias, “causos” sem perceber,

Ele, se paciente, escuta como se tudo fosse novo.


 
Mãe que se foi. O filho nunca vai esquecer

A saudade, que de início atordoa,

Do seu rosto, sua voz... seu jeito de ser,

Aos poucos se transforma em amena dor.



Mãezinha, mamãe, mãe...

Hoje, amanhã, sempre...

Imagem, tradução, encarnação

Do único e verdadeiro

Amor.





                                                         Adalto Paceli