No mínimo, audacioso! Escrever há mais de 40 anos com palavras duras e, até mesmo de baixo calão sem deixar a beleza e o enternecimento de lado, não é pra qualquer um. Entrelaçar problemas de infraestrutura, relacionamento e educação, fazer um paralelo da podridão do rio que corta São Luís do Maranhão com a podridão, que aos poucos vai comendo seus moradores da periferia é magistral e envolvente. Não se consegue interromper a leitura. Ela flui em meio ao ritmo da narrativa, rimas e ausência de pontuação.
Em especial, o seguinte trecho do poema nos deteve, observe: "... Menos, claro,/nas palafitas da Baixinha, à margem/da estrada de ferro,/onde não há água encanada/ali/o clarão contido sob a noite/não é/ como na cidade/ o punho fechado da água dentro dos canos:/é o punho/da vida/ fechada dentro da lama//Já por aí se vê/ que a noite não é a mesma/ em todos os pontos da cidade;/...
Ao descrever esse local específico, a Baixinha, o poeta traz à tona a dureza da vida de seus habitantes e a desigualdade social da cidade. Será que as coisas mudaram tanto assim?
Para aqueles que pensam que poemas tratam apenas de romantismo, afeto recheado de pieguices e para aqueles que pensam na poesia com profundidade, vai a dica: Poema sujo!
Para aqueles que pensam que poemas tratam apenas de romantismo, afeto recheado de pieguices e para aqueles que pensam na poesia com profundidade, vai a dica: Poema sujo!