domingo, 17 de novembro de 2013

Graciliano Ramos - Infância

Dividido em capítulos/contos, este romance surpreende pela crueza da narrativa autobiográfica, crueldade moral e física, abolição de mentirinha, coronelismo perene.
Causa-nos comoção a educação, permeada pela ignorância e violência na escola e nos enternece a cena descrita pelo autor-personagem em que encontra uma nova mestra e dela espera o mesmo tratamento rude que recebera até então, porém ela o trata com carinho, ouvindo sua leitura gaguejante em voz alta até o final. Neste particular, lembramos de Cazuza, de Viriato Corrêa, quando conta sua experiência na nova escola de Coroatá. Num trecho ele nos comove ao dizer " Ela nos recebeu com o carinho de quem recebe um filho". 
Não foi uma leitura leve, ao contrário, pesada e difícil. Não pela narrativa, pois o livro é de Graciliano Ramos, mas pela dor de uma infância roubada e violentada. Os espancamentos sofridos pelo narrador-menino tanto do pai quanto da mãe são de chorar. Em determinado momento, depois de uma surra homérica, ele diz, não textualmente, "Mamãe não quis deixar meu corpo tão marcado, coitada, ela não viu o nó na corda".
Outra característica digna de nota, é a escravidão. A narrativa está nos primórdios da Abolição e cita as mulheres escravas com filhos livres e os negros sexagenários. Estavam naquele momento em pior situação que antes, não tinham com quem deixar os filhos ou, velhos, para onde ir. Há uma garoto criado com o nosso protagonista, que é frequentemente espancado.
Enfim, embora não esteja entre as obras mais conhecidas de Graciliano Ramos e narrar tantas acontecimento tristes, é um romance que vale a pena ser lido. Saímos desse livro fazendo um paralelo com a atualidade, com o ECA, a polêmica da diminuição da idade penal para 16 anos, a Fundação Casa, nossos filhos e alunos. No livro a criança é desprovida de direitos, não é gente; isso é horrível. Hoje a criança, apesar das tragédias "Isabela, Joaquim" entre outras, têm assegurados alguns direitos, dois principais, de brincar e de estudar; mas está faltando deixar claro quais são as obrigações das crianças e, em especial, dos pais. Cidadania só com deveres ou só com direitos não é cidadania. Ler Infância nos ajuda a entender o hoje e a lutar por um mundo melhor.

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