Embora a República Portuguesa só tenha sido proclamada em 1910, na segunda
metade do século XIX, 1850 a 1900, a elite já sonhava com ela, muitos
consideravam que esse novo sistema resolveria os problemas que julgavam serem
consequência de uma monarquia obsoleta. Você vai perceber isso ao ler Os Maias,
romance realista de Eça de Queirós. Esse é apenas um dos muitos aspectos da
sociedade portuguesa abordado por esse artista das palavras. A sensação, por
vezes, é de estarmos em plena Lisboa, tal é a maestria do autor ao nos revelar,
por exemplo, a vida ociosa das famílias abastadas de um Portugal inexpressivo no
cenário europeu da época, a fortuna dessas famílias vem da riqueza acumulada
durante a exploração das colônias, em especial, o Brasil, mas ainda se cita
Angola, pois muitas das colônias só foram libertadas já na segunda metade do
século XX.
Porém, esse é o pano de fundo,
pois o que se sobressai nesse romance é a composição ou decomposição do caráter
de alguns personagens, do protagonista Carlos da Maia e de seu amigo João da Ega, dentre outros. A
infidelidade conjugal, a pusilanimidade, a indolência, a fofoca são algumas das
feridas que são expostas por Eça crua e duramente.
Então você, colega leitor, talvez
esteja pensando que se trata de um romance histórico, com muitas características
extremamente parecidas com a da sociedade brasileira de hoje e você está certo,
mas não estaria se concluísse que ler as 582 páginas seja algo cansativo, pois
a leitura flui, a gente fica envolvido pelo enredo, pela forma artística criada
pelo romancista para contar essa história, em resumo, não se quer interromper a leitura e, por
vezes, fica-se boquiaberto e surpreso
com alguns desenlaces, um em especial que percebi por alto, num momento da
leitura, mas não quis acreditar...
Bom, quer saber mais? Ah, você já
assistiu à minissérie televisiva e pensa que isso substitui a leitura? Engano
seu, o livro tem outra linguagem, a
literária, e é imensamente superior.
Adalto Paceli
Nenhum comentário:
Postar um comentário