Agosto - Rubem Fonseca
Há muitos, presumo, que em tempos de Internet abandonaram a literatura ou diminuíram sua leitura drasticamente pensando erroneamente que esta os deixaria desinformados, por contar fatos já ocorridos, na maioria das vezes.
Um engano repousa nesse raciocínio, pois só conseguimos ter uma visão menos restrita da realidade em que vivemos, quando tomamos conhecimento do que aconteceu outrora, daí a importância capital da História e da Literatura na formação do cidadão.
Perguntaria você nesse momento, mas... o que tem a ver esse preâmbulo com "Agosto"? Tudo, pois esse Agosto é o de 1954, mês e ano do "suicídio" de Getúlio Vargas.
O Interessante nesse romance de Rubem Fonseca, 1925 - 2020, é que o protagonista não é Getúlio, sim o íntegro Comissário de Polícia Mattos, com uma úlcera constante e dividido entre o amor de duas mulheres.
No mundo político nos deparamos com as famílias encrustadas no poder, um senador cujo filho é governador, um prefeito cujo avô foi um cacique político de seu estado, outro que seu cunhado é o chefe de gabinete... Nesse romance temos o presidente cercado de parentes em cargos públicos indicados ou eleitos, numa época em que campanha e eleição política estavam cercadas de interesses privados com o capital determinando o voto, hoje é muito diferente...
Não vai nesse detalhe tentativa de desabonar a figura de Vargas, sabemos do seu legado aos trabalhadores, é apenas uma das narrativas do romance.
Para não nos alongarmos nessa simples resenha, adiantamos que a maioria dos nomes citados na história desse livro são reais, empresários, políticos, líderes religiosos, dentre outros, e muitos dos acontecimentos são também verídicos, daí sua primeira publicação só em 1990, pois certamente teria sido censurada se publicada à época, outros são recheados de ficção, a exemplo do próprio comissário Mattos e suas relações afetivas e sociais.
Portanto, a leitura desse romance não só nos dá bons momentos de entretenimento, mas também muito conhecimento histórico.
O exemplar que lemos é da Coleção Folha – Grandes Escritores Brasileiros de 2008 - porém, fácil de ser adquirida, inclusive em bons sebos.
Boa leitura!
Adalto Paceli de Oliveira