domingo, 12 de junho de 2011

Crônica

Visita


     Sinceramente, Sérgio gosta deste lugar, por isso sempre volta. Tudo o envolve, a conversa, a casa e o jardim ... Este em especial, as rosas no alto começando a desfolhar e o cheiro da terra que melhora sua respiração.
     Muitas vezes, porém, sai daqui inquieto, um não sei quê de tristeza no ar. Não que Tereza o hostilize, isso de jeito nenhum. Cara boa, fala meiga e toda ouvidos. Só que Eric não é mais o mesmo ... Por onde anda o violão que, com gosto, tirava da capa e mesmo sem jeito tocava? Tocava e cantava.
     O Sérgio? Cantava junto, desafinava, mas cantava, e os dois riam naqueles momentos rápidos e profundos. Isso sem falar do radinho moderno que Eric comprou e mostrava com orgulho, indicando como captava as mais longínquas estações, enquanto brincava com Tereza sobre o preço pago pelo novo brinquedo, dizendo enquanto ria, ter comprado bem baratinho, olhando-a com ar maroto.
     Desta vez, há nos olhos do amigo uma névoa ... Percebida mais intensamente na despedida, ao abrir o portão, quando Sérgio fita Éric. Mas nada diz, nem sempre existem palavras.
     No carro, ouve a gargalhada do amigo, o som do violão e do radinho, mas segue só para casa. Propõe-se escrever um e-mail assim que chegar e logo desiste ... Prefere continuar com a lembrança.
     Quem sabe, da próxima vez tente remexer as calmas águas daquele lago, mas o provável mesmo é que guarde silêncio e não revolva os sentimentos do amigo.

                                                                                                                        Adalto Paceli


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