terça-feira, 27 de outubro de 2015

Arte e ciência de roubar galinha


Não, não se trata de nenhuma dica de como afanar galinhas para uma boa festinha com os amigos. Você, com certeza, já ouviu falar do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. Porém, ele ficou conhecido pelo livro Viva o povo brasileiro!. Um dia desses, estando com os alunos na biblioteca da escola, interessei-me pelo título de um livro que um aluno estava devolvendo e resolvi pegá-lo para dar uma olhada. Resultado: peguei a obra emprestada.
Trata-se de um livro de crônicas muito divertido, um causo melhor que o outro. João Ubaldo morava em Itaparica (BA), embora viajasse constantemente, tendo residência ali, tinha um bom relacionamento com os moradores do lugar e daí surgiram as histórias de pescador, animais domésticos, relacionamentos, religiosidade, família, dentre outros.
Com um humor cativante, esse escritor baiano vai nos apresentando sua pequena cidade e seu cotidiano, é claro, com os enfeites e pequenos exageros que só um cronista desse quilate pode acrescentar. 
Numa dessas crônicas, que me fez rir muito, ele nos conta sobre uma jovem viúva que tinha ataques nervosos, não conseguia dormir e que foi submetida a um tratamento pelo padre do lugar, agora, o resultado desse tal tratamento ... só lendo pra você saber.
Outro causo engraçado é sobre um tal peixe venenoso que alguns pescadores insistiam em saborear, mesmo sabendo dos riscos... Muitas vezes não é a história em si, mas sim a maneira como a crônica foi contada. 
Lembrei-me dos mineiros de minha terra, quando dizem "É a Maria do Osvaldo", lá na Bahia, em Itaparica também é assim, só que em vez de " Maria do Osvaldo" dizem "Maria de Osvaldo".
Amigos, é uma leitura muito gostosa e flui tanto que a gente nem sente o tempo passar. Então aí vai mais uma dica: Arte e ciência de roubar galinha, de João Ubaldo Ribeiro.

Adalto Paceli

domingo, 25 de outubro de 2015

Pérolas

Já dizia o saudoso Chacrinha "Quem não se comunica, se estrumbica", pois o importante na comunicação é que seja entendida, para isto não é preciso sobressaltar a norma de prestígio nem as variantes linguísticas, todas têm sua importância, dependendo das circunstâncias de grupos, lugar, momento, escrita ou oralidade, dentre outras.
No entanto, algumas expressões são engraçadas e nos causam uma certa estranheza ao ouvi-las e depois ajudam a aliviar as tensões do dia a dia. Aí vão algumas:
. Evite aborrecimentos no trânsito não dirigindo nas horas de bico.
. Mergulhou num lugar raso, quase fica parapilégico.
. Abri o jornal e lá estava a foto estancada!
. O prédio ficou imundado.
. Sou muito tenente a Deus.
. O oculista delatou minha pupila.
. Que coisa mais antiga, isto é do tempo do Zagalo.
. Certa vez, uma prima e amiga de minha mãe disse pra ela: "Maria, o Maramba virou bate!" Tratava-se de um clube que diziam estar ficando 'mal frequentado'. Na verdade, ela queria dizer "Maria, o Umuarama virou boate.'
. Não gosto de palavras de baixo escalão.
- Vai ter greve? Então vamos ter paralisia?
- Adoro uva paz!
- Levantei-me depressa e quase tive uma virtude.
- O Varti só quer usar aquela camisa berge!
- Leve seus documentos, se por uma aventura um guarda te parar ...
- Bete mora na casa há muitos anos, já virou usou campeão.
_ Você acredita que o Sérgio teve a cachorra de contar nosso segredo para a Célia?
_ Minha vizinha tirou um módulo do seio.
_ Você vai ao mercado? Traz umas nacatarinas pra mim.

Adalto Paceli

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Pai rico e pai pobre

     Procuro diversificar minhas leituras, na medida do possível, pois temos nossas preferências. Então li um livro com dicas sobre como cuidar da nossa saúde financeira. 
       Cresci com minha mãe dizendo "Quem compra terra não erra" ou "Quem quiser ser nobre, desfaça do que tem e tenha cobre". Sei que não é bem assim, mas esses conselhos me ajudaram a ter os pés no chão quando o assunto é dinheiro, afinal, é tão difícil levantar  cedo para trabalhar... Opa, divagando demais, voltemos ao livro em questão. 
    O autor desse livro é o milionário do Havaí, de descendência japonesa, Robert Kyosaki, que justifica o título contando que seu pai é um professor universitário, o pai pobre. Já o pai rico é, na verdade, pai do seu amigo de infância.
      Robert dá sequência à sua narrativa por meio de histórias ou fatos vividos por ele e esse amigo, orientados desde pequenos por esse "pai rico". 
      É uma  leitura agradável e instigante, gostaria de destacar a orientação que permeia a obra: temos que nos organizar para obtermos mais ativos, ou seja, bens que trazem retorno financeiro, a exemplo, imóveis e ações, dentre outros. E tomarmos cuidado para não nos descontrolarmos e ficarmos só investindo em bens passivos, que perdem seu valor com o tempo, móveis e produtos tecnológicos de ponta, por exemplo, pois na hora da necessidade esses  não terão liquidez.
      É óbvio que minha visão é bem simplista e que ao ler você terá muito mais amplitude e talvez um posicionamento diferente. Os comentários, pontos de vista e as  sinopses são válidos, mas nada substitui a efetiva leitura, só ela nos faz mergulhar no pensamento do autor, misturar com os nossos e ter como resultado uma experiência singular. Fica aí a dica.

Adalto Paceli

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Mosaico II


Como atividade escolar passei algumas vezes para meus alunos o filme O caçador de pipas. Fiquei emocionado em todas as ocasiões e revoltado com o personagem Amir nas cenas  em que ele tentava prejudicar Hassan, não conto detalhes para que você não perca o interesse em assistir ao filme, pois vale a pena. No entanto, o que ficou essencialmente do filme para mim foi o dia a dia do povo afegão. Os seus valores, seus sofrimentos e  perseguições e, em particular, a questão da violência sob o manto da religiosidade. Não quero entrar no mérito da questão e sim passar minha sensação. É óbvio que, sendo um filme rodado por americanos, temos que considerar a ideologia dos Estados Unidos com relação a esse povo, a questão do Onze de Setembro e a perseguição aos Talibãs.
Soube depois pela Internet que os dois atores mirins e um adolescente sofreram perseguição ao retornarem das gravações para o Afeganistão, pois as autoridades consideraram uma determinada cena entre os três personagens ofensiva à moral afegã.
Retornando à essência do filme, aqueles costumes não saem de minha mente. A subjugação da mulher, a burca, as proibições, enfim, a falta de liberdade individual me impressionam, não escrevo isso como contestação à ideologia islâmica ou ao regime de governo, não sou estudioso do assunto.
Recentemente caíram em minhas mãos dois livros, os quais li com avidez, pois tratavam também do povo afegão. Os livros são A cidade do sol, escrito por Khaled Hosseini, aliás autor do livro homônimo ao filme a que me referi e O livreiro de Cabul, escrito pela norueguesa Asne Seierstad. Confesso que antes de terminar a primeira parte do livro A cidade do sol senti um mal estar, joguei o livro num canto e disse em voz alta "droga, não quero mais ler esse livro!". Mas a curiosidade falou mais alto e concluí a leitura. O livreiro de Cabul começou mais leve, esse livro tem um caráter de quase pesquisa, sem a chatice de se ler uma, a autora passou uma primavera em Cabul, na casa do livreiro Sultan e, com a permissão dele relatou depois, em forma de histórias, tudo que pôde presenciar e sentir nesse período em que ficou hospedada com essa família.
Enfim, deixo essas  dicas  para você que gosta de sempre aprender coisas novas viajando na leitura.
Adalto Paceli



sábado, 17 de outubro de 2015

Mosaico

Li três livros indicados pelo Rodrigo, meu amigo professor de História, a saber, Raízes do Brasil, O povo brasileiro e Formação do Brasil contemporâneo, escritos respectivamente por Sérgio Buarque de Holanda, Darci Ribeiro e Caio Prado Júnior. Aprendi muito com essas leituras, entendi um pouco melhor a formação do nosso povo, como chegamos até aqui, algumas dicas interessantes do porquê  de sermos do jeito que somos.
Sérgio Buarque e Caio Prado, ao meu simples olhar, são mais intelectualizados, insistem num olhar mais distante, lembrando o narrador observador. Talvez isso seja antes um mérito que um demérito, dá um caráter mais "científico". Já Darci, talvez por ser antropólogo, já é mais próximo do leitor, viaja no mesmo barco em que estamos.
Pondo os autores à parte por um momento e fixando nas obras, destaco a nossa formação "racial", a riqueza da contribuição do Índio, do Africano e do Português, a princípio. Em Raízes, Sérgio Buarque dá um destaque ao Português, demonstrando aí, novamente pelo olhar desse leigo que lhes escreve, um certo elitismo. Darci, ao contrário, dá peso igual aos nossos  três formadores, exaltando-se ao falar dos nossos mais de trezentos anos de escravidão.
Caio Prado, como o próprio título já indica, parte do Brasil "independente", Esse autor dá mais importância à Abertura do Portos em 1808 que à Independência em 1822, o que é realmente relevante e nos faz ponderar a respeito. Critica ao lado de Darci, mas por um outro viés, a demora da abolição da escravatura no Brasil e cita as pressões inglesas para que os negros fossem libertos logo. O que houve porém foi uma enrolação dos três poderes. Criaram a lei do Ventre Livre, do Sexagenário, dentre outras, com o propósito primeiro de protelar ao máximo a abolição. Qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência.
Enfim, citando Brecht, "Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la", concluo convidando àqueles que não conhecem esses livros a lê-los, se pude alcançar minimamente o que esses notáveis brasileiros escreveram, garanto que vocês alcançarão muito mais. Boa leitura!

Adalto Paceli de Oliveira