terça-feira, 30 de maio de 2017

 Linha Cruzada

      No meio da noite o telefone de minha casa, tocou, tocou muito, então acordei, calcei meus chinelos, desci as escadas e fui para o pequeno corredor entre a sala e a cozinha, onde fica o telefone. Não reconheci o número no visor, mas atendi mesmo assim.
      Foi muito estranho, eu conseguia escutar alguém na linha, na verdade, pareciam duas pessoas conversando, mas era impossível entender a conversa, pois as vozes pareciam distantes, como se estivessem bem longe do telefone. Curioso, porém assustado, desliguei o telefone e voltei para o quarto.
      Já estava no último degrau da escada quando o telefone toca novamente. Desta vez, era possível escutar e entender bem melhor a conversa. Percebi que se tratava de uma linha cruzada, pois os dois sujeitos não perceberam que alguém escutava em momento algum.
      Eram dois homens, um deles parecia mais velho que o outro. Por mais que eu estivesse com sono, continuei escutando os estranhos. Eles falavam sobre cordas, pregos, redes, martelos é mais uma série de outras ferramentas. Pareciam planejar algo importante, e estavam ansiosos, quando o mais novo falou:
      - Já conseguiu a arma?
      - A espingarda? Sim, sim. Tudo pronto, né?
      - Acho que sim, tudo pronto.
      - Estou indo, chego aí dentro de 15 minutos.
      - Estarei aguardando no local combinado.
      E desligou.
      Entrei em pânico. Alguma coisa iria acontecer dentro de 15 minutos e não parecia nada bom. Liguei para a polícia, ainda muito assustado. Contei tudo o que escutei e o número do telefone que estava na lista de últimas chamadas. A atendente disse que já estava mandando uma viatura para o endereço do telefone, disse para eu não me preocupar e desligou.
      Então, voltei para o meu quarto e tentei dormir, mas não consegui. Cerca de meia hora depois, escuto o telefone tocar novamente. Voei escada abaixo e atendi rapidamente. Era a atendente, a moça da polícia. Ela disse para eu não ficar tranquilo, pois foi tudo um mal entendido. Eram apenas avô e neto que planejavam acampar e caçar no fim de semana.
      Fui dormir aliviado, e prometi a mim mesmo que nunca mais escutaria conversas dos outros.


- Gabriela Cardoso Ribeiro, 8° ano B, n° 8, 14 anos.

domingo, 21 de maio de 2017

Passa ônibus em minha rua,

Pra muitos um tormento,
Pra mim, terno momento.
Vê-lo todo iluminado,
Enternece-me o coração.

Mamãe dizia que deitada,
Naquelas noites insones,
Nos momentos que nos consomem,
Nada a consolava mais
Que o latido de um cão.

Caminhando com as gentes,
Nos lugares de movimento,
Presto atenção nas palavras e risos
Dos que passam desatentos
E colho migalhas de atenção.

Não pense que tudo isso
Traz-me tristeza ou rancor,
Ao contrário, são sinais de vida
Vivida com muito amor.

Amor à vida, aos amigos,
Até por alguém desconhecido.
Por meus filhos e um livro,
Também a quem se foi.
E pelo meu bem,
Que nesta noite fria
É meu melhor cobertor!


                                                                Adalto Paceli

segunda-feira, 15 de maio de 2017

DELÍRIO
Quando dormimos o nosso espírito vela.
— Ésquilo
A noite quando durmo, esclarecendo 
As trevas do meu sono,
Uma etérea visão vem assentar-se
Junto ao meu leito aflito!
Anjo ou mulher? não sei. — Ah! se não fosse
Um qual véu transparente,
Como que a alma pura ali se pinta
Ao través do semblante,
Eu a crera mulher... — E tentas, louco,
Recordar o passado,
Transformando o prazer, que desfrutaste,
Em lentas agonias?!
Visão, fatal visão, por que derramas
Sobre o meu rosto pálido
A luz de um longo olhar, que amor exprime
E pede compaixão?
Por que teu coração exala uns fundos,
Magoados suspiros,
Que eu não escuto, mas que vejo e sinto
Nos teus lábios morrer?
Por que esse gesto e mórbida postura
De macerado espírito,
Que vive entre aflições, que já nem sabe
Desfrutar um prazer?
Tu falas! tu que dizes? este acento,
Esta voz melindrosa,
Noutros tempos ouvi, porém mais leda;
Era um hino d′amor.
A voz, que escuto, é magoada e triste,
— Harmonia celeste,
Que à noite vem nas asas do silêncio
Umedecer as faces
Do que enxerga outra vida além das nuvens.
Esta voz não é sua;
É acorde talvez d′harpa celeste,
Caído sobre a terra!
Balbucias uns sons, que eu mal percebo,
Doridos, compassados,
Fracos, mais fracos; — lágrimas despontam
Nos teus olhos brilhantes...
Choras! tu choras!... Para mim teus braços
Por força irresistível
Estendem-se, procuram-me; procuro-te
Em delírio afanoso.
Fatídico poder entre nós ambos
Ergueu alta barreira;
Ele te enlaça e prende... mal resistes...
Cedes enfim... acordo!
Acordo do meu sonho tormentoso,
E choro o meu sonhar!
E fecho os olhos, e de novo intento
O sonho reatar.
Embalde! porque a vida me tem preso;
E eu sou escravo seu!
Acordado ou dormindo, é triste a vida
Dês que o amor se perdeu.
Há contudo prazer em nos lembrarmos
Da passada ventura,
Como o que educa flores vicejantes
Em triste sepultura.
GONÇALVES DIAS
Este tem sido meu livro de cabeceira, tenho uma edição antiga que traz uma introdução de Mário da Silva Brito com o título "Informe sobre o homem e o poeta Gonçalves Dias". Fiquei impressionado com algumas passagens, por exemplo, o preconceito que sofre por ser mestiço, pois é filho bastardo de um português com uma mestiça, disso resulta sua grande desilusão amorosa. Apaixonado Por Ana Amélia que será sua musa inspiradora, pede-a em casamento, mas a mãe da menina recusa o pedido por meio de uma carta. Carta fatídica que o fará sofrer desse amor negado até sua morte num naufrágio perto de seu estado natal, o Maranhão, morre mais pelo seu grave estado de saúde que pelo afundamento do navio.
Desse livro tenho tirado algumas poesias aqui postadas. Espero que estejam gostando. Acima vai mais uma.
É isso!
Adalto Paceli

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Caminho

A poesia despertou-me
Aos gritos e ordenou
Levanta e escreve!
Mas estou tão cansado...
Retruquei, virando-me pro lado.

Então entrou em mim
Minha mente foi tomada
De cores, sons e fantasmas
Quis resistir, mas não pude.

Palavras gritavam e dançavam
Loucas para serem escritas
E não mais me contive.

Enquanto escrevia o que sei
Que não sei
E, que ler muitos não querem,

Lágrima e sorriso
No meu rosto se misturavam
Antítese de vida e morte
De riso e choro.

Naquele intrincado tecido
Que ora eu tecia
Vi desfilarem alegria de infâncias
Tristeza de despedidas.

Qual um náufrago
Que à tábua se agarra
À minha pena me agarrava
Com pena do me ofício
Tão falado e pouco lido.

Mas no turbilhão de emoções
Que no papel colocava
Sentia num e noutro verso
Que algo novo despertava.

Se quem leria... se lesse
Houvesse de também sentir
Isso não sabia dizer
Pois isso já é caminho
Que esses poucos
Terão de percorrer.

                Adalto Paceli


segunda-feira, 1 de maio de 2017

Dica sobre resumo: Evite copiar trechos do texto original e juntá-los, pois esse mosaico pode ficar superficial, sem sentido e desinteressante. Isso não quer dizer que não você não possa copiar um ou outro trecho, nesse caso coloque entre aspas. 
Apresente o título, a fonte e o assunto no primeiro parágrafo, por exemplo: O texto tal, publicado na revista x retrata o assunto tal...
. Caso o texto a ser resumido traga falas de especialistas ou de pessoas envolvidas no assunto, recrie as citações. Veja: O psicólogo Roberto Farias alerta para o fato de muitas mulheres recorrerem a clínicas clandestinas por não terem condições financeiras...
. Resuma só o essencial, não copie diálogos, esses, geralmente, não cabem nesse gênero textual.
É permitido fazer comentários ou opinar? Depende do tipo de resumo solicitado. Caso seja um resumo em que não se explicite essa possibilidade, atenha-se ao que está escrito no texto original.
Devo fazer parágrafos? Sim, é imprescindível, pois o resumo é um novo texto e deve conter, portanto, a introdução, o desenvolvimento e o desfecho ou conclusão.
É isso.


Adalto Paceli
Belchior,
Eu sou também
 Um rapaz latino-americano
Sem dinheiro no banco.
Sinto solidão na estrada
Quando as paralelas dos pneus
São duas estradas nuas
Em que fujo do meu eu.
Já gritei do apartamento
Mas só o eco respondeu.
Já beijei a menina
No escuro do cinema
Quando ninguém nos via,
Pois meu coração selvagem
Tinha pressa de viver!
Implorei que alguém vivesse comigo,
Mas... não quis correr perigo.
Enfim trago sua dor, pois percebo
Que apesar de ter feito
tudo que na vida a gente faz,
Ainda sou o mesmo e
Vivo como meus ancestrais.
Você, Belchior, mais do que ninguém,
Soube cantar o que sinto,
Coisas que estão no coração,
mas não sei como dizer.
Obrigado poeta!
Adalto Paceli.