Dentre aquelas pobres almas que vagavam pelas ruas, uma protagonizou um episódio que mamãe contava com gosto. Era a Dona Maria, que ficava fora de si, se é que isso fosse possível, quando alguém a chamava de Cebolinha. Nessa circunstância ela gritava palavrões, pegava o que via pela frente para atirar e ficava por muito tempo fazendo escândalo. Isso para a criançada, infelizmente, era um show imperdível.
Certa vez, andando pelo Bela Vista, um bairro de Passos, ganhando um pedaço de pão aqui, uma moeda ali, passou pela porta de Dona Efigênia, uma bondosa senhora, amiga de minha mãe. Estando com a porta aberta, Dona Efigênia chamou pela pobre andarilha:
_ Dona Maria, como vai? Entre, acabei de passar um café.
A mulher entrou, convidada a sentar-se, tomou café e comeu pão. Quando fazia menção de ir-se, a dona da casa propôs:
- Fique essa manhã aqui, vou separar algumas roupas para a senhora, enquanto isso tome um banho, descanse. Depois do almoço a senhora segue.
Dona Maria, que era uma boa alma aceitou comovida. E assim passou-se a manhã, almoçaram juntas, tomaram outro cafezinho, a caridosa mulher fez uma trouxa com roupas usadas e acompanhou a pobre senhora até a calçada, mas para sua infelicidade cometeu um pequeno equívoco:
-Venha sempre, quando estiver passando por aqui, não se acanhe, bata e virei atendê-la com o maior prazer, Dona Cebolinha.
Esse final não prestou, o desequilíbrio mental falou mais alto e a Dona Maria ficou possessa. Jogou a trouxa de roupas no meio da rua, levantou o vestido e xingou sua protetora de todos os palavrões imagináveis. Saiu pela rua a resmungar, esquecendo-se de todo o favor recebido.
Assustada, a amiga de minha mãe não teve outra opção que entrar e tentar esquecer o ocorrido, pois devemos fazer o bem sem olhar a quem.
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