sábado, 23 de junho de 2012

A COLERA DIVINA


                                Quando fui ferida,
Por Deus, pelo diabo, ou por mim mesma,
_ ainda não sei _
percebi que não morrera, após três dias,
ao rever pardais
e moitinhas de trevo.
Quando era jovem,
Só estes passarinhos,
Estas folhinhas bastavam
Para eu cantar louvores,
Dedicar óperas ao rei.
Mas um cachorro batido
Demora um pouco a latir,
A festejar seu dono
- ele, um bicho que não é gente-
tanto mais eu que posso perguntar:
por que razão me bates?
Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhas
Uma tênue sombra ainda cobre meu espírito.
Quem me feriu perdoe-me.

Adélia Prado











                                                 

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